Windows x Mac x Linux
Qual é a sua preferencia?
Por enquanto, o movimento de adoção do Mac e do Linux ainda está longe de afetar o cenário de dominância do Windows. A Microsoft segue como a dona da plataforma majoritária no mundo e continua a milhas de distância nas vendas de máquinas novas. Segundo a consultoria IDC, 70% dos computadores comprados no mercado formal e informal no primeiro trimestre de 2010 no Brasil tinham Windows instalado. Em segundo, aparece o Linux, com 22%. “Pequenos fabricantes têm dificuldade de competir com os grandes e oferecem máquinas com Linux. Mas a maioria dos compradores instala o Windows pirata”, diz Luciano Crippa, analista de mercado da IDC.
A fatia do Mac OS é minúscula, de 1,5% nas contas do IDC, mas ganha fôlego. A Apple se beneficia do chamado efeito iPhone. São novatos na plataforma que usam o smartphone e buscam uma nova experiência no computador. Outro atrativo inquestionável para a Apple tem sido o design. Nas redes de varejo, muitos consumidores têm tomado contato com os computadores da marca pela primeira vez. Nas lojas da Fnac, por exemplo, houve crescimento de vendas de 70% em unidades de Macs no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2009. “Os clientes querem trocar seus desktops por máquinas mais bonitas, como notebooks e desktops tudo-em-um”, diz Benjamin Dubost, diretor comercial da Fnac Brasil. Segundo ele, o Mac hoje tem um público eclético e não está mais restrito a artistas. “Ao mesmo tempo em que a Apple se aproximou das massas, o Windows se refinou.”
Na Polícia Militar de São Paulo, as 27 000 estações de trabalho usam Windows. Apesar disso, na mesa do chefe do centro de processamento de dados, o tenente coronel Alfredo Deak, há um MacBook Pro comprado há seis meses. “Eu tinha curiosidade e comprovei que ele realmente é simples. O sistema aproveita melhor o hardware: com 1 GB de RAM, parece que você tem 4 GB”, diz. Mas Deak encontrou algumas barreiras com o Mac OS e teve de optar por rodar o Windows em dual boot. “Não conseguia sincronizar minha agenda”, diz.
Quando queimou seu desktop com Windows e com Slackware Linux, no fim do ano passado, o administrador de sistemas Marcel Mitsuto, de 32 anos, decidiu comprar um Macbook Pro. “Me rendi ao fetiche do Mac”, diz. Usuário de Linux no trabalho, Mitsuto vê semelhanças entre o Mac OS e o ambiente Unix. Os games, um dos pontos fracos do Mac por falta de títulos compatíveis, não são um problema para ele, que joga Starcraf 1 e 2, Warcraft 1, 2 e 3 e Counter Strike.
Para matar a curiosidade de usar o sistema da Apple sem ter de comprar um Mac, o engenheiro civil Lelo Ferreira (nome fictício), de 45 anos, resolveu fazer no ano passado um hackintosh, prática não oficial de instalar uma versão modificada do Mac OS em PCs. Ferreira diz que o Mac OS X roda perfeitamente no micro que ele mesmo montou. “Só tive problema de compatibilidade com uma webcam barata.” Na comunidade Hackintosh Brasil (https://hackintosh-brasil.ning.com/) mais de 560 membros discutem sobre o tema.
Se há um caminho de ida para o Mac, há também o de volta. É o caso do engenheiro de computação Alexandre Ingles, de 36 anos. Seduzido pelo iPhone, ele resolveu comprar um MacBook. Gostou da integração entre o notebook e outros produtos da marca, como o Time Capsule, roteador com armazenamento para backup. Mas, acostumado a usar teclas de atalho no Windows, ele viu sua produtividade cair. “O sistema de arquivos é ruim para quem gosta de organizá-los à sua maneira”, diz. Ingles já decidiu que seu próximo computador terá Windows.
Acostumado ao Ubuntu, uma das distribuições mais populares do Linux, o engenheiro da computação Rogério Varalda, de 28 anos, não se surpreendeu com seu MacBook. “Não achei aquela maravilha que todo mundo diz. O Mac OS é um sistema inflexível, apesar de seguro.”
Além do design e do efeito iPhone, há uma mudança no patamar de preços que acaba incentivando uma maior adoção de Mac no país. O Mac mini, modelo mais barato da Apple no país, sai hoje por 2 699 reais, na configuração mais simples. No início de 2007, custava a partir de 3 399 reais. Apesar dessa queda, a diferença ainda é grande entre os computadores da Apple e os PCs. Com o valor do Mac mini é possível comprar um desktop de marca com configuração avançada. “Não é estratégia da Apple baixar preços. É uma marca posicionada para exibir status”, diz Michael Silver, analista líder de sistemas operacionais clientes do Gartner. No Brasil, onde o quesito preço é ainda mais importante, Silver acredita no potencial de crescimento do Linux.
Pinguim tatuado
Palco de eventos internacionais consagrados, como a Fisl e a Linuxcon, o Brasil virou referência na adoção de software livre. O país está na rota de personagens míticas desse universo, como John Maddog Hall, presidente da Linux International, e Linus Torvalds, criador do Linux. Não é à toa: 40% dos órgãos do governo já usam Linux em servidores ou em desktops, segundo Marcos Mazoni, coordenador do Comitê Técnico de Implementação de Software Livre do Governo Federal. Em estações de trabalho de projetos públicos, a estimativa de Mazoni é que 25% estejam com alguma distribuição do Linux. No projeto Um Computador por Aluno, por exemplo, 150 000 máquinas terão uma distribuição desenvolvida pela empresa Metasys. "Software livre combina com governo", diz Mazoni.
Por sua natureza aberta, o Linux cativa os apaixonados por computação. Fuçadores de bits do mundo todo se aventuram pelas entranhas do sistema para aperfeiçoá-lo. O analista de suporte Henrique Fagundes, de 29 anos, chegou a tatuar a palavra Linux no braço - com henna, pois tem alergia à tatuagem comum. A marca desapareceu, mas o amor pelo sistema não. Segurança, leveza e gratuidade são algumas das vantagens que ele enumera sem titubear. "Posso alterar e desenvolver para o sistema, pois tenho acesso total ao código", diz.
A distribuição escolhida por Fagundes é o Ubuntu, mantido pela Canonical. A CEO da empresa, Jane Silber, estima que o sistema tenha 12 milhões de usuários no mundo e mais de 1 milhão de participantes do fórum. "Para nações em desenvolvimento, pagar bilhões de dólares por software proprietário é mais uma questão de escolha do que de necessidade", diz. Segundo Jane, o Brasil é o segundo país que mais solicita CDs do Ubuntu.
Na hora de procurar um novo emprego, o analista de sistemas Cleber Pereira Silva, de 29 anos, levou em conta o sistema operacional usado nos terminais. "Mudei de empresa para poder trabalhar em um ambiente GNU Linux", diz. Usuário da distribuição Debian no computador doméstico, Silva se irritava com o Windows na empresa antiga. "As máquinas tinham vários problemas de desempenho durante o dia. O Linux rodaria melhor."
O administrador de sistemas Ítalo Fassina, de 26 anos, admite: é um fanático por Linux. Desde 2006 experimentou distribuições como Conectiva, Mandriva, Debian, Suse, Red Hat e hoje é adepto do Fedora. Apesar de reconhecer as desvantagens do Linux, como a falta de games compatíveis, ele não se conforma com a baixa adesão. "As pessoas não usam Linux pela falta de tempo em aprender algo novo ou pela ignorância de achar que é difícil de usar", diz.
As versões do Linux instaladas em alguns dos computadores que são vendidos no Brasil geralmente estragam a imagem do sistema, reclama Augusto Campos, mantenedor do site BR-Linux (https://br-linux.org/). "Com raras exceções, como a Dell, as fabricantes instalam distribuições sem compatibilidade com o hardware vendido."
Pinguim para leigos
Será que o Linux é palatável para quem não é expert em informática? A técnica em nutrição Cristina Messa, de 31 anos, garante que sim. Em maio do ano passado ela trocou o Windows XP pelo Linux Mint. “Queria jogar o PC no lixo por causa de problemas com vírus. Meu namorado me trouxe o CD do Mint e instalei na hora”, conta. Hoje, ela é uma das participantes mais ativas do fórum do Mint no Brasil — e não sofre mais com as pragas virtuais.
O relações-públicas Duda Nogueira, de 27 anos, membro da comunidade Ubuntu no Brasil, quer reduzir o preconceito contra o Linux. “Ele não é mais restrito a engenheiros”, diz. Para Nogueira, a falta de interesses econômicos em torno do Linux também traz algumas dificuldades, como a escassez de software para empresas. “A Adobe, por exemplo, não tem interesse em fazer um Photoshop para Linux”, diz.
Fabricantes de hardware nem sempre dão suporte ao Linux e a comunidade geralmente precisa dar duro para desenvolver por si só os drivers dos equipamentos. Mas alguns deles já olham para turma do pinguim com mais atenção. “Sempre que anunciamos um hardware novo, damos suporte para o Linux”, diz Reinaldo Affonso, diretor de desenvolvimento tecnológico da Intel na América Latina. No desenvolvimento kernel do Linux, 8% do código foi escrito por profissionais da Intel, segundo pesquisa do site Linux Weekly News. É a segunda empresa que mais contribui para o kernel, após a Red Hat, que participa com 12% do código.
Ameaça de morte
Numa área em que ninguém é uma unanimidade, o Linux, claro, também tem seus críticos. Defensor do Windows, o técnico em manutenção de computadores Octávio Augusto da Silva, de 19 anos, já recebeu até ameaças de morte por causa do seu site Fanboys de Linux (https://www.fanboysdelinux.hpg.com.br/). Na página, ele discorda do que considera mitos do sistema do pinguim, como a facilidade de uso, segurança e compatibilidade. “O que me irrita são os fanáticos, que criticam o Windows baseados em versões antigas”, diz. Os números de mercado embasam seu discurso. Depois de vários tropeços com o Vista, a Microsoft parece estar agradando novamente as massas com o Windows 7. Com apenas nove meses de vendas, o Windows 7 passou o Vista em número de usuários, de acordo com pesquisa da Netmarketshare.
O programador Thayro Cardoso, de 23 anos, prefere o Windows 7, mas é obrigado a usar Linux no trabalho. “Não encontrei dificuldade no Ubuntu. Ele é rápido e mais leve”, diz. Apesar disso, a comodidade de continuar a usar o software que ele está acostumado fala mais alto. Ele não abre mão do Maya e do 3DS, para modelagem 3D, por exemplo.
Essa familiaridade é um dos trunfos do Windows, na visão de Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor da divisão de serviços de consumer e online da Microsoft Brasil. “O sistema tem 1 bilhão de usuários no mundo, as pessoas estão acostumadas a usá-lo”, diz. Essa popularidade, segundo ele, traz outra vantagem, que é a grande oferta de aplicativos e a compatibilidade. “Drivers para periféricos e programas saem primeiro para Windows”, diz. Vírus? “Temos a plataforma mais disseminada, por isso somos alvos”, afirma.
Apesar do incontestável domínio do mercado de sistemas para computadores, Oliveira diz que a Microsoft não ignora os concorrentes Apple e Linux. No mês passado a empresa colocou no ar uma página (https://www.microsoft.com/windows/windows-7/compare/pc-vs-mac.aspx) com um comparativo do Windows com o Mac. “Temos equipamentos para todos os perfis. É uma variedade que o Mac não tem.”
Na visão dos analistas não é a Apple que ameaça a hegemonia da Microsoft. Com a popularização dos tablets e netbooks, há chance de outros sistemas ganharem espaço. A Intel e a Nokia, por exemplo, investem no Meego, sistema que será mantido pela Linux Foundation. E o Google prepara o Chrome OS. “O avanço desse mercado do segundo PC pode abalar a Microsoft. O usuário pode se acostumar a outras interfaces”, afirma Crippa, do IDC. O crescente uso das ferramentas web também pode afetar esse mercado, na opinião de Silver, do Gartner. “O sistema operacional em si não será tão importante para o usuário. Certamente há chance de que esse cenário mude”, diz
Por Kátia Arima, INFOR